Por que acontece?
A retina é a camada do fundo do olho que detecta a luz e nos permite enxergar. A retinopatia da prematuridade ocorre quando vasos sanguíneos da retina desenvolvem-se de forma anormal durante a terapia necessária para a sobrevivência da criança prematura.
O oxigênio dado à criança e a imaturidade retiniana calculada pelo peso ao nascer e idade gestacional são fatores essenciais para o desenvolvimento da retinopatia. Em nossa experiência, crianças nascidas com peso menor que 1500g têm 30% de chance de apresentar a retinopatia; já se o peso for menor que 1000g, este risco aumenta para 50%. Outros fatores de risco são: síndrome do desconforto respiratório, sepse, transfusões sangüíneas, gestação múltipla, infecções, hemorragia intra-ventricular, persistência de canal arterial e apnéias recorrentes.
Há prevenção?
Não se conhece nenhuma forma de prevenir, entretanto exames oftalmológicos precoces diagnosticam a doença em fase inicial, quando o tratamento tem melhor resultado. Os neonatologistas estão cientes de que alguns tratamentos são fatores de risco para a retinopatia, mas são estes mesmos tratamentos que fazem com que crianças muito prematuras sobrevivam, e por isso a retinopatia tem se tornado cada vez mais freqüente. O acompanhamento pré-natal é importante para evitar o parto prematuro.
Como detectar?
O oftalmologista especializado pode detectar a retinopatia ao fazer o mapeamento da retina na unidade neonatal inicialmente entre 4 e 6 semanas de vida e repetindo conforme necessário.
A visão da criança pode ser comprometida?
Ao examinar uma criança pela primeira vez ao redor de 4 a 6 semanas após o nascimento, é difícil prever a visão final. Muitas crianças apresentam regressão espontânea dos vasos anormais sem afetar a visão. Em outras com doença mais grave, hemorragias e cicatrização de tecidos podem levar a distorção ou descolamento de retina e isto pode resultar em perda de acuidade visual de moderada a severa. Poucas crianças ficam cegas.
Erros de refração e estrabismo são mais comuns em crianças prematuras. O diagnóstico precoce evita um prejuízo no desenvolvimento visual da criança. A visão é uma atividade aprendida, se um dos olhos não enxergar bem, as conexões deste olho com o cérebro serão deficientes e este olho terá uma visão pior – será o "olho preguiçoso", que deverá ser estimulado e erros refrativos corrigidos o mais breve possível. As crianças com perda da visão devem receber um treinamento especial para desenvolver sua visão residual. Existem centros especializados para casos de visão subnormal.
Como tratar?
Muitos olhos se desenvolvem bem sem nenhum tratamento. Em casos mais graves, fotocoagulação (laser) e/ou crioterapia são o tratamento de escolha. A injeção de anti-VEGF pode ser usada em condições especiais.
A doença é dividida em 5 fases, sendo a fase 5 a mais grave e é na fase limiar que a cirurgia com laser, crio ou anti-VEGF é indicada.
Quando se trata a área de retina avascular, geralmente os vasos anormais regridem sem tracionar a retina central mais nobre. A visão na maior parte das vezes será boa após o tratamento. Quando crianças muito imaturas desenvolvem a forma agressiva posterior, a perda de transparência e as condições clínicas do recém-nascido podem impedir o tratamento com o laser e o anti-VEGF pode ser usado.
A possível passagem do anti-VEGF para a circulação pode trazer alguma consequência no desenvolvimento global da criança. Nestes casos usa-se o anti-VEGF que tenha menor comprometimento sistêmico; e atualmente o Lucentis é a melhor escolha. Estes casos devem ser acompanhados até que a retina esteja totalmente vascularizada pois existe um retardo neste processo.
Se houver descolamento da retina, é necessária uma cirurgia mais complicada (vitrectomia associada à introflexão escleral), que pode restaurar uma visão limitada. Nestes casos deve ser feito um trabalho precoce e intensivo de estimulação visual após a cirurgia.
Outras complicações como glaucoma, estrabismo e catarata podem necessitar correção cirúrgica tardia.
Como deve ser o acompanhamento?
Exames oftalmológicos periódicos são necessários em todas as crianças prematuras, mesmo as que não apresentaram a retinopatia, para avaliar se a visão está se desenvolvendo normalmente. Sugerimos a realização de exames aos 6, 12, 18 e 24 meses e a seguir anualmente até os 10 anos, quando a visão estará totalmente desenvolvida.